fevereiro 24, 2010

Fantasporto 2010


destaques da programação:

Grande Auditório
Sábado, 27 de Fevereiro
23.15h - Bakjwi / Thirst - Chan-Wook Park – Coreia Sul 133 min
do realizador de Oldboy e vencedor do Prémio do Juri em Cannes 2009

Segunda-feira, 1 de Março
23.15h –[Rec 2] – Jaume Balagueró, Paco Plaza – Esp- 90 min
continuação do original, pela mesma dupla de realizadores

Terça-feira, 2 de Março
21.15h Ward no.6 - Aleksandr Gornovsky & Karen Shakhnazarov - Russia 83 min
entrada oficial da Rússia para Oscar Melhor Filme Estrangeiro
23.15h - Deliver Us from Evil - Ole Bornedal - Din 100 min

Quarta-feira, 3 de Março
21.15h - Fish Tank - Andrea Arnold – GB – 123 min SR
da realizadora de Red Road & vencedor do Prémio do Juri em Cannes 2009
23.30h –Jennifer's Body - Karyn Kusama- EUA- 102min
série b com Megan Fox, argumento de Diablo Cody (Juno)

Sexta-feira, 5 de Março
21.00h - The Time That Remains - Elia Suleiman – Fra 109 min
do realizador de Yadon Ilaheyya (Intervenção Divina)

Pequeno auditório
Sábado, 27 de Fevereiro
23.00h - Cet Obscur Object Du Désir - Luis Bunuel (1977) 102 min

Segunda-feira, 1 de Março
21.00h - Alphaville - Jean-Luc Godard (1965)
23.00h - Hiroshima Mon Amour - Alain Resnais (1961) 90 min

fevereiro 22, 2010

Film Editing

video da Slate

fevereiro 18, 2010

El Secreto de Sus Ojos

Filmes pre-seleccionados para a lista de Oscar Melhor Filme Estrangeiro (III)
El Secreto de Sus Ojos de Juan José Campanella, Argentina 2009, 7/10
Limites da convenção

Este filme argentino tem sido considerado um possível candidato surpresa a vencer o prémio, numa repetição do que aconteceu o ano passado com “Okuribito/Departures” que beneficiou de uma divisão entre “Entre les murs” e “Vals im Bashir” e que poderá voltar a acontecer este ano com “Das Weisse Band” e “Un Prophete”, filmes aclamados pela crítica mas menos acessíveis e cujo impacto não é tão imediato como o de “El Secreto de Sus Ojos”: é um thriller sentimentalista bem executado que beneficia de perfomances estelares de todo um elenco que terá em Ricardo Darín o seu nome mais reconhecido. É uma obra que habita um espaço entre um filme que segue uma estrutura convencional e mecanismos familiares mas ao mesmo tempo explora as margens desse cinema, permitindo-se liberdades criativas e narrativas que apesar de não serem seguirem a norma também nunca se afastam demasiado para não alienar o espectador comum.

A narrativa é quebrada: começamos no presente, enquanto um oficial de justiça reformado tenta recordar-se de um caso de violação-homicídio que nunca esqueceu para escrever as suas memórias, mas vive sobretudo da construcção da história através de longos flashbacks, regressando apenas por momentos ao presente para estabelecer alguma perspectiva. É também um filme que vive da dinâmica de investigação criminal, que permite facilmente impor um ritmo ao filme para manter constantemente a atenção do espectador. O caso em questão irá dar lugar a explorar a relação do personagem principal com outras duas personagens devido ao envolvimento pessoal de todos no caso: com uma juíza de que o protagonista se enamora, e o seu assistente, um divertido bebado deprimido, relações que vão formar o fio condutor do filme e avançar com a história.

Juan Campanella é alguém com experiência a trabalhar em televisão (House, 30 Rock, Law & Order), ou seja em seguir formatos quase pré-definidos. Aqui parece utilizar essa experiência para trabalhando dentro das margens da convencionalidade conseguir muitas vezes atingir momentos de subtileza e inferir sentimentos implícitos mas que não são demasiado explicados, que não serão habituais num registo mais comercial, criando várias cenas-chaves que acabam por ser pequenos momentos inesquecíveis dentro do filme, desvios de encenação: um encontro no elevador sem troca de palavras exprime perfeitamente um sentimento de medo e impotência; uma recordação de uma noite que com a passagem do tempo ganha novos contornos; uma cena de interrogatório que poderia ser igual a tantas outras mas que toma contornos surpreendentes; e de repente um plano-sequência inacreditável que demonstra uma ambição cénica quase arrogante que não via desde “Children of Men”:
- começando com um plano aéreo de um estádio de futebol a meio de um jogo, a camâra sobrevoa o relvado e mergulha no meio dos adeptos sem cortes aparentes, pausando no meio daquela confusão controlada da massa de adeptos recriando um ambiente de jogo de futebol poucas vezes imaginado assim, e continuando, entra pelos corredores debaixo da bancada em perseguições e convulsões, atira-se de uma varanda atrás de alguém até acabar outra vez no relvado: se a sequência destoa do tom intimista do resto do filme não perturba ou parece artificialmente deslocada - contribui antes para recriar um sentimento de confusão e descontrolo momentâneo.

Não é só na direcção que o filme demonstra estar desalinhado com as convenções, mas também nas temáticas que aborda: há uma sempre presente crítica ao funcionamento da justiça e um lamento às hierarquias e burocracias que provêm das históricas tribulações políticas na Argentina nos últimos anos (o filme cobre um período de 30 anos); há um debate sobre a eficácia da pena de morte: para uma das vítimas faz mais sentido que o culpado sofra um castigo duradouro, numa declaração pouco políticamente correcta.

É portanto um filme que utiliza de forma astuta mecanismos convencionais ao mesmo tempo que explora as margens do género, baseado numa hábil construcção de tensão e identificação com as personagens, para criar uma obra de fácil empatia, com uma sequência que justifica quase por si só um visionamento.

fevereiro 17, 2010

Samson and Delilah

Filmes pre-seleccionados para a lista de Oscar Melhor Filme Estrangeiro (II)
Samson and Delilah de Warwick Thornton, Austrália 2009, 8/10

Samson e Delilah do título são um par de jovens aborígenes australianos que o destino parece ter comprometido a dependerem um do outro. O início do filme é uma série de repetições de trivialidades diárias para ajudar a estabelecer o marasmo imposto pela pobreza da comunidade remota onde ambos vivem uma existência árida, sobrevivendo: Samson acorda, ouve música, arrasta-se até à loja local à espera de arranjar alguma comida, inala vapores de petróleo (que ajudam a esquecer a fome), adormece; Delilah acorda, trata da avó, leva-a até ao centro médico local, pinta, cozinha. É um começo desesperante no meio de um cenário triste: carros abandonados, casas decadentes, lixo e espaços estéreis, que define violentamente o esquecimento a que são remetidos estes aborígenes na sociedade australiana, deslocados do mundo que os rodeia apenas de longe.

Quando a avó de Delillah morre ela é castigada pelos outros habitantes e fica sem ninguém: num acto de luto corta o seu cabelo. Samson, irritado com o tratamento a Delilah, frustrado com a rotina diária e dormente pelo efeito dos vapores que abusa, leva Delilah para longe, atravessando a Austrália até uma cidade estranha, da qual irão conhecer pouco mais que uma ponte que utilizarão para abrigo da indiferença, num rumo indigente desajustado. Aí será ainda mais evidente o abandono a que são remetidos: definitivamente não fazem parte deste mundo. Proscritos e marginalizados, o seu futuro é negro e solitário e a sua ténue esperança parece perder o pulso tal como os seus corações, mas a sua força é a companhia do outro e por essa união passará a sua salvação e uma segunda oportunidade, porque não há mais ninguém.

É um filme de silêncios interrompidos: quase não existem diálogos, o que deixa espaço para um maior destaque dos sons ambientais e um papel mais importante para a música, que tal como para outros adolescentes funciona aqui como um escape também para estes dois: da rebelião de Samson à alienação tímida de Delilah, permite-lhes fugir por alguns momentos ao seu presente, dando origem às mais belas sequências do filme.

O filme utiliza uma mistura de longos planos fixos e de planos mais livres com a camâra ao ombro, numa composição de aproximação a um realismo desolador quebrado por liberdades poéticas, numa história de probabilidades trágicas que apresenta-nos algo que estamos a presenciar mas sem a capacidade de alterar, numa simbiose de alienação entre a situação dos personagens e do espectador em relação a eles. Uma declaração do “estado das coisas”, da brutalidade crua da realidade intercalado com fugas imaginadas pelos personagens para lutar contra o desaparecimento, para se subtraírem da sua condição.

Se em “La Teta Assustada” o isolamento da personagem principal em relação ao resto do mundo é criado através não só do retrato duro do quotidiano mas com recurso à procura de alegorias e quadros simbólicos, em "Samson and Delilah" o impacto com a realidade é de frente.

fevereiro 11, 2010

De Palma vs Scorsese

no Hollywood-Elsewhere, Tarantino fala de uma história que Brian De Palma lhe contou:



fevereiro 09, 2010

La Teta Assustada, Oorlogswinter

Filmes pre-seleccionados para a lista de Oscar Melhor Filme Estrangeiro (I)

La teta assustada (The Milk of Sorrow) de Claudia Llosa, Peru, 8/10
Sobreviver… sem alma

A personagem principal de “La Teta Assustada” passa o filme todo permanentemente assustada, receosa e desconfiada de qualquer contacto ou proximidade humana, num abraço à solidão auto-inflingido. O nome do filme tem origem numa lenda local, em que a mãe, ela própria assustada (neste caso com o período de conflito interno no Peru), passa esse medo ao filho através do leite materno, determinando deste modo o destino da personagem do filme, Fausta. A única relação dela é com a sua mãe e quando esta morre no início do filme fica ainda mais sozinha. É obrigada a procurar trabalho para pagar o funeral e enquanto não tem o dinheiro necessário o corpo da sua mãe permanece no seu quarto – mesmo depois de morta, é com ela que a frágil personagem se sente confortável e com quem se refugia. A procura de emprego leva-a para fora da sua zona de segurança, a conhecer contra vontade novas pessoas: uma compositora, que se inspira nas canções que Fausta tem por hábito trautear para se esconder da realidade, evocando historietas e contos locais; e o jardineiro que trabalha na mesma casa, que Fausta parece ver com menos desconfiança ao reparar na ternura com que ele cuida das plantas.

Mas acima de tudo, apesar da vontade de viver ela não se atreve: afinal, a sua preocupação é não ser atacada ou violada, e para isso recorre até a outra tradição local que envolve uma batata (tem que ser visto): “Onde moro, anda-se colada à parede, senão as almas podem apanhar-te e podes morrer”. Quando alguém lhe diz que só a morte é obrigatória e o resto somos nós que escolhemos, ela naturalmente responde: “E quando te violam e te matam, isso não é obrigatório”. São estradas solitárias e tortuosas as que ela percorre durante o filme, numa lógica de auto-defesa contra o mundo exterior, por entre personagens que parecem viver uma angústia demorada, insensíveis na sua maior parte à alienação de Fausta.

Da mesma forma que a personagem principal do filme procura manter distâncias em relação a todos os outros, o filme parece procurar uma abordagem distanciada, contemplando os rumos de Fausta de forma quase documental, mas ao mesmo tempo criando uma relação emocional com o seu destino, já que ela está presente em todos os quadros. Acabamos por ver o mundo através dos seus olhos assustados, num vislumbre do seu mapa emocional. De certa forma, tornamo-nos a única testemunha de Fausta, os únicos capazes de a compreender.

O filme tem durante vários momentos como cenário um noivado ou casamento: quer da sua prima que se vai casar, quer dos vários casamentos em que Fausta trabalha, sempre isolada dos retratos de felicidade artificial estrangeira que a rodeiam, sobrevivendo mesmo assim…

Oorlogswinter (Winter In Wartime) de Martin Koolhoven, Holanda, 5/10
Conflitos revisitados

Historia íntima mas pouco surpreendente, este filme holandês que retrata uma jornada de crescimento interior poderia passar por filme americano tal são as convenções estilísticas e narrativas a que recorre. É mais uma história sobre a perda de inocência juvenil, de sobrevivência em circunstâncias extraordinárias dos tempos de guerra: um rapaz vê um avião a despenhar-se durante a noite e no dia seguinte ao caminhar pelos bosques encontra o piloto inglês escondido e decide ajuda-lo a escapar, mesmo que não saiba em quem confiar.

Não há muito mais que tensas cenas de acção e sequências de perseguição, à medida que o nosso protagonista tenta manobrar entre patrulhas alemãs e escapar à supervisão parental – há uma paranóia constante em relação aos nazis e desconfiança em relação a todos que isolam o jovem na sua missão; e confrontos geracionais, que levam o rapaz a questionar o papel do pai como colaborador que tenta à sua maneira apaziguar a opressão nazi sobre os locais e uma relação com um tio ligado à resistência, que levanta algum debate sobre as escolhas em tempos extremados: se sacrificar o orgulho e não levantar problemas, ou participar em perigosas acções de resistencia activa.

O modo como a história é filmada alterna entre momentos pessoais à procura de subtilezas nas sombras e entre momentos com resquícios de westerns e evocações de Sergio Leone, com grandes planos demorados nas faces dos actores ou slow-motions extendidos, ajudados por música orquestral que tenta atribuir grande importância dramática e construir tensão nas cenas fulcrais, na única escolha estilística de direcção, efeitos que podem parecer desajustados a tempos e que não se adequam exactamente ao tom sentimentalista da história, mas que pelo menos demostram alguma ambição cénica, que mesmo assim nunca consegue escapar das personagens unidimensionais pouco desenvolvidas e da falta de imaginação narrativa.

fevereiro 07, 2010

Super Bowl