News from Home, de Chantal Akerman, 1977, 10/10
Todas estas pessoas desaparecem. Todos aqueles sonhos (planos) desapareceram incompletos, inacabados. Tal como as torres do World Trade Center que dominam as imagens finais do filme, em que abandonamos Nova Iorque à sua alienação orgulhosa, as pessoas que desaparecem e são substituídas por outras são o centro de um filme nas margens. Chantal Akerman filma fragmentos desconexos de uma cidade desintegrada, paisagens como partes de uma insofrível "rat race" infindável, preenchida apenas por trivialidades necessárias à sobrevivência que nos apagam lentamente.
São testemunhos da passagem de pessoas pela cidade que é testemunha própria da massa anónima de pessoas que vão passando por Nova Iorque e que ainda haverão de passar, sem deixar marca, em permanente circulação para lado algum. A camâra é fixa, sempre fixa, ou numa rua suja e quase deserta, ou a espreitar uma cozinha escurecida de um restaurante ou no metro entre paragens indistintas com multidões que se esvaziam - são as formas de Akerman tentar encontrar algo através das pessoas, algo além da cavernosa solidão que transparece dessas multidões. Akerman parece querer mostrar que uma metrópole como Nova Iorque é um gigante com cavidades no coração - as pessoas. O resultado são enquadramentos com qualidades hopperianas que aludem à tristeza nostálgica de que fala Alain de Botton ("On Seeing and Noticing"). Ao longo do filme vamos ouvindo as cartas da mãe de Akerman, que se sucedem como as pessoas na rua sem nenhum significado especial, banalidades na sua essência própria da vida. Estamos em 1977 e há uma crise económica, Akerman salta de emprego em emprego para sustentar a sua arte, a mãe queixa-se da saúde e das pessoas, a vida é difícil. Nova Iorque está vazia.
o momento a que chegamos
Há 13 anos
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