março 05, 2010

The Most Dangerous Man in America

The Most Dangerous Man in America: Daniel Ellsberg and the Pentagon Papers, de Judith Ehrlich & Rick Goldsmith , EUA 2009, 7/10

The Most Dangerous Man in America é como Richard Nixon se referiu a Daniel Ellsberg, responsável pela fuga de documentos "top secret" do Pentágono relativos à guerra do Vietname, que mais tarde seriam publicados nos jornais americanos, revelando toda a farsa que foi a preparação para a invasão e a consequente manipulação da estratégia de guerra para salvar interesses norte-americanos na região. Ellsberg, um analista ao serviço do instituto RAND (Research and Development) e mais tarde integrado no Pentágono como estratega militar com o encargo de estudar diferentes cenários de guerra e as implicações políticas das acções do exército americano durante a presença no Vietname, sentia-se directamente implicado pelo rumo da guerra, já que fez parte de uma equipa responsável pela criacção de documentos com o objectivo de justificar uma intervenção americana (mesmo que baseados em relatos falsos ou exagerados). Ao longo do documentário, Ellsberg conta na primeira pessoa como à medida que foi integrado na operação e tinha acesso a mais informação, crescia a sua desilusão com o modo como tudo decorria e especialmente com a manipulação pelo governo da opinião pública e dos meios de informação que eram mantidos no escuro sobre o que acontecia realmente no terreno. Este primeiro acto do filme é um acto de contricção de Ellsberg à medida que vai revelando a sua mudança de consciência, através de relatos emocionados da sua angústia por fazer parte do sistema ao mesmo tempo que era confrontado com activistas que arriscavam penas de prisão para defender um ideal, depois de ter presenciado os efeitos da guerra nos soldados americanos e na população vietnamita. Ellsberg explica como chegou a uma única conclusão possível que era para ele usar o poder como insider e o acesso à informação que tinha para trazer a público documentos secretos incriminadores, numa decisão que teve repercussões até a Watergate e à demissão de Nixon.

Utilizando poderosas imagens de arquivo (entre as quais gravações de Nixon, como "I'd rather use a nuclear bomb. Have you got that ready?"), recriação dos eventos descritos e testemunhos de colegas e analistas históricos (entre os quais Howard Zinn) que colocam perspectiva sobre os acontecimentos, o filme demonstra efectivamente os efeitos da exposição de Ellsberg sobre a sua vida pessoal (interrogado e acusado de crimes que carregavam uma sentença de 115 anos de prisão), e a batalha pela liberdade de imprensa que se seguiu a uma injunção da Casa Branca para impedir o New York Times de publicar a história.

Se existe uma tentativa pelos realizadores de criar uma ligação entre a história pessoal de Ellsberg, que quando era criança sofreu um acidente de viação que vitimou a sua mãe e irmã porque o seu pai adormeceu ao volante… tal como os presidentes americanos responsáveis pela continuação da guerra, no fundo o documentário é sobre uma atitude corajosa de alguém que questiona noções simplistas de patriotismo e arrisca tudo numa defesa resoluta de um príncipio, mesmo contra enormes adversidades. É também impossível não ver um paralelo com a guerra do Iraque e o não-papel dos media no período que antecedeu a invasão, e por isso não é surpreendente ver Ellsberg em 2008 numa manifestação pelo fim da guerra nas imagens finais do filme, símbolo de alguém que não perdeu a esperança em fazer a diferença.

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