setembro 17, 2009

State of Play

Kevin Macdonald, 2009 – 7/10


Se em Michael Clayton (7/10) Tony Gilroy tinha já abordado o tema da ganância corporativista e dos seus tentáculos pela perspectiva dos círculos de advogados, agora é a vez de Kevin McDonald (depois do Last King of Scotland - 5/10) explorar as ligações subterrâneas de corporações como a Blackwater/Halliburton à política americana sob uma perspectiva jornalística, com a ajuda de Gilroy no argumento. Aqui não há grandes declarações visuais ou escolhas inusitadas na direcção da câmara, pelo contrário, a encenação ocupa um lugar secundário de forma a enfatizar a importância da história apoiada numa cuidadosa preparação e descrição do cenário e personagens, permitindo-se tempo para caracterizar sem muita pressa a cidade chuvosa e escura onde se desenrola a acção com planos do metro de Washington e uma refeição no Obama-famoso Ben’s Chili Bowl, caracterização que passa também pelo lado físico da interpretação de Russel Crowe (num dos seus papeis mais genuínos), um repórter com corte de cabelo e sacola hippie e alguns quilos a mais, cujo pequeno-almoço que consiste em snacks é consumido ao volante do seu velhinho Saab para algum compromisso para que já estará atrasado, passando pela descrição do ambiente e funcionamento da redacção de um jornal sério e tradicional (e por consequência em conflito com as novas tecnologias), pela secretária atulhada de livros e cadernos de Crowe, e também pela sua relação com os seus colegas e a sua reputação e habilidade de conseguir a história. Existem vários momentos que adicionam a esta composição do ambiente, como a jornalista que tem que acordar a meio da noite para ir à esquadra e o polícia que janta à pressa no intervalo do seu turno que a ajuda (utilização de actos triviais para estabelecer contexto), a introdução de uma personagem sem-abrigo, ou a discussão entre editores e jornalistas sobre o rumo e pesquisa da história, a relação de Crowe com o polícia local interpretado pelo impecável Harry Lennix, ou a visão interna de uma reunião entre a direcção do jornal e a polícia devido à retenção pelo jornal de provas cruciais, que envolve questões sobre a ética jornalística que são exploradas não só nesta instância mas na generalidade da forma como Crowe procura obter informação e fontes sobre a história (evocando All The Presiden’ts Men – 8/10), questão moral abordada também pela relação entre Crowe e o político que está no centro de toda a polémica, seu amigo de longa data (Ben Affleck, adequado ao jovem político bem-parecido e em ascensão). 

É um bom documento de intriga política que mantém um ar tenso de paránoia enriquecida pelos testemunhos de pessoas envolvidas nas práticas da empresa suspeita e pessoas ligadas aos trâmites das negociações e lobbying próprios dos círculos de Washington, constitui um bom aviso-denúncia dos perigos bem fundamentados da intromissão de interesses corporativistas na esfera política e do necessário debate que exulta. É também uma boa reflexão e documentação do trabalho de investigação jornalística (já tinha sido o melhor de Frost/Nixon - 5/10), de um glamour perdido de um jornalismo à antiga (responsável) em confronto com necessidades económicas actuais. É entretenimento apelativo pela credibilidade da conspiração utilizada e de certa forma interessante pelos pontos que toca, e no seu todo é mais do que o veículo comercial que seria de esperar para uma produção de Hollywood. Infelizmente no final o lado político passa para segundo plano subsituído por maior ênfase do lado pessoal da história num twist a mais que diminui a força das conclusões morais do filme, mas que é compensado pelos curiosos créditos finais e por um elenco forte (Helen Mirren, Rachel Adams, Robin Wright Penn, Jason Bateman).

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