janeiro 21, 2011

Banksy


"Exit Through the Gift Shop" de Banksy está pré-seleccionado para o Oscar de Melhor Documentário e enquanto não é conhecida a lista final de nomeados, o filme continua a arrecadar prémios e a tornar-se uma séria ameaça na categoria. Recentemente o filme foi premiado como melhor documentário nos "Cinema Eye Honors", e Banksy, não estando presente (como não podia deixar de ser), enviou um discurso de aceitação do prémio para ser lido durante a cerimónia:

"Now’s not the time for long, rambling speeches. I’ll leave that for the director of ‘Waiting for Superman.’


I’d like to thank the Cinema Eye awards. It’s great to be recognized by people who are so obsessed with the documentary genre — in other words people who are even more socially retarded than myself.


I guess some of you may be getting a bit suspicious about me. How can you know that this award is real? But I’d like to categorically assure you that this evening’s awards are not being staged by actors for a parody I’m making about film awards.


I’d like to thank anyone who worked on the movie. Almost all of them did a great job. And I’d like to dedicate this award to anyone out there who’s ever looked at the state of this world and thought: “I can’t just stand idly by and watch this happen. I need to get it on tape.” Thank you and have a good evening."


* crítica a Exit Through the Gift Shop

Oscar 2011: Filme Estrangeiro


Já foi revelada a shortlist dos 9 filmes que serão reduzidos na próxima semana a 5 nomeados para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, uma das poucas categorias que invariavelmente tem interesse. Os 9:

Life, above all - África do Sul - trailer
Hors la Loi - Argélia - trailer
Incendies - Canadá - trailer
In a Better World - Dinamarca - trailer
Tambien la Lluvia - Espanha - trailer
Kynodontas / Canino - Grécia
Confessions - Japão - trailer
Biutiful - México - trailer
Simple Simon - Suécia - trailer

Ainda não foi desta que Portugal teve uma nomeação, apesar do filme de João Pedro Rodrigues "Morrer como um Homem" ter tido uma boa recepção junto da crítica estrangeira, chegando a ser incluído nos tops dos melhores filmes do ano de revistas como a "New Yorker" ou "Cahiers do Cinema" (7º). Aliás, a grande ausência desta lista é mesmo o melhor filme do ano para os Cahiers e vencedor em Cannes em 2010, "Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives" do tailandês Weerasethakul, o que mostra a contínua, se não crescente, ruptura entre a Academia e festivais como Cannes/Veneza/Berlim na valorização do cinema de autor. Entre as ausências de notar também que o filme francês "Des Hommes et des Deux" de Xavier Beauvois (2º lugar em Cannes) não foi escolhido; quanto a "I Am Love", este não foi a escolha da academia italiana, tal como "Lebanon" não foi a escolha da academia israelita.

A grande e agradável surpresa é a inclusão de "Kynodontas" (Canino). É uma menção que poderá ajudar a divulgação deste brilhante filme, não deixa de ser já uma honra atingida e se oferece alguma esperança em relação ao futuro ou uma abertura da Academia a uma obra fracturante e arriscada como esta, será muito difícil passar à lista final (mas, o ano passado a surpresa foi a nomeação do peruano "La Teta Assustada").

Favoritos à selecção final parecem ser:
- "In a Better World", vencedor já do Globo de Ouro e talvez o maior favorito (The lives of two Danish families cross each other, and an extraordinary but risky friendship comes into bud. But loneliness, frailty and sorrow lie in wait)
- o sul-africano "Life, above all" (an emotional and universal drama about a young girl who fights the fear and shame that have poisoned her community. The film captures the enduring strength of loyalty and a courage powered by the heart - it is based on the international award winning novel "Chanda's Secrets")
- o canadiano "Incendies(a mother's last wishes send twins Jeanne and Simon on a journey to Middle East in search of their tangled roots. Incendies tells the powerful and moving tale of two young adults' voyage to the core of deep-rooted hatred, never-ending wars and enduring love)
- o mexicano "Biutiful", o novo filme de Alejandro González Iñárritu, desta vez sem a colaboração do seu argumentista de Amores Perros e 21 Grams
- para o 5º talvez o argelino Hors la Loi, no que seria a segunda nomeação para Rachid Bouchareb depois de Indigènes; ou o espanhol "Tambien la Lluvia", já que a combinação Cristovão Colombo e Gael García Bernal tem sempre potencial, mas a vitória deverá ser disputada entre os outros nomeados.

(mais em: www.incontention.com)
* últimos vencedores em Cannes:

2010: Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives
2009: The White Ribbon [nomeado para Oscar Melhor Filme]
2008: The Class [nomeado para Oscar Melhor Filme]
2007: 4 Months, 3 Weeks and 2 Days
2006: The Wind That Shakes the Barley
2005: L'enfant

janeiro 14, 2011

Winter's Bone

Winter's Bone, de Debra Granik, EUA 2010, 8/10


O minimalismo patente em Winter's Bone tem um único objectivo: deixar-nos sozinhos com a personagem central, uma indómita rapariga de 17 anos face aos elementos adversos que ela tem de enfrentar. Os planos longos e distantes, repetindo-se erodem a nossa resistência e delapidam a vontade de Ree, numa composição ambiental sem misericórdia, essencial para criar empatia com a personagem e também para delimitar a fronteira desta vida, estabelecendo a impossibilidade da ideia de um outro mundo. O notável em "Winter's Bone" é a facilidade com que nos perdermos no isolamento intemporal da situação das suas personagens. O filme tanto podia ocorrer há cinquenta anos atrás, como daqui a cinquenta anos, que não notariamos diferença - tal é a arrogância isolacionista do espaço - o que é suficiente para evidenciar o redutor ciclo que é vivido dentro do filme. Uma geração dá lugar a outra geração, repetem-se erros e fecham-se portas, enterram-se futuros.

No meio de rivalidades mundanas entre familiares, negócios de drogas, que apenas reforçam a precariedade de como se tenta sobreviver nesta comunidade, e sentimentos de impunidade, que se alimentam de vidas à margem da sociedade e da sua lei, fica apenas o vazio no centro. No meio de uma floresta de árvores solitárias, a luta de Ree em sustentar os irmãos mais novos é contrariada pela debilidade de uma mãe dormente e pela procura de um pai de corpo desaparecido. A lenta claustrofobia em que o filme nos envolve é definida na sua escuridão. Sempre num tom retraído de imagens que ardem, o interior profundo desta america esquecida é acima de tudo ameaçador. Entre assegurar a próxima refeição, sobreviver ao inverno frio e desafiar a rede de figuras locais poderosas que envolve a família próxima, para tentar desvendar o que aconteceu ao pai, Ree é castigada por personificar uma ameaça como alguém que se desvia da ordem instalada, que não se rende às evidências. É este perigo que encarna que é criminal para quem está habituado a esconder os males do seu modo de vida. À medida que vai sendo percorrido o caminho escolhido por Ree mostra-se implacável, mas tem de segui-lo até ao fim.

A exposição no filme sobre o que vai acontecendo e o contexto apresentado são diminutos, e muitas vezes o filme é contado através de silêncios demorados. É a dinâmica da investigação que sustenta o filme, mas são as feições feridas de Ree pelo vento gélido que revelam mais história que qualquer exposição conseguiria. É através deste balanço entre composição ambiental e narrativa nebulosa que o filme se alinha com uma corrente recente, que se destaca pelo ressurgimento de um estilo formal próximo do neo-realismo mas que se transforma num realismo quase onírico. Tal como Samson and Delilah ou Wendy and Lucy, estes filmes acrescentam ao objectivismo com que são filmados um cenário particular no seu isolamento, aludindo a um etéreo negro de Terrence Malick em Badlands ou Days of Heaven.


A cena mais importante do filme tem um impacto tão devastador precisamente pelas fronteiras que estabelece durante o filme. É a única cena que se desenrola temporariamente fora do cenário das montanhas, em que Ree se desloca a um centro de recrutamento do exército americano para averiguar as possibilidades de abandonar o mundo que conhece mas revela uma saída demasiado custosa - é o choque com um outro mundo real materializado naquela sala e o choque de não ter qualquer saída. Outras portas que se fecham.