julho 25, 2014

Kelly Reichardt


Tive a oportunidade de conversar com a Kelly Reichardt (Old Joy, Wendy and Lucy, Meek's Cutoff, Night Moves) sobre os seus filmes, por ocasião do Festival Curtas Vila do Conde '14 - podem ler a entrevista no À pala de Walsh.

julho 24, 2014

Loong Boonmee Raleuk Chat (O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores, 2010)

Loong Boonmee Raleuk Chat (Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives)

o texto sobre Loong Boonmee Raleuk Chat (O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores, 2010), foi re-publicado no ÀPaladeWalsh.com

julho 16, 2014

Festival Curtas Vila do Conde 2014

O Triângulo Dourado (2014) de Miguel Clara Vasconcelos

a minha cobertura do festival para o ÀPaladeWalsh pode ser lida aqui:

1 - primeiros dias
2 - diários do cinema 
3 - conclusão

os meus favoritos: First Light (2014) de Mariana Gaivão; Le Boudin (2014) de Salomé Lamas; O Triângulo Dourado (2014) de Miguel Clara Vasconcelos; Sara e Sua Mãe (2014) de Teresa Villaverde.

julho 04, 2014

Old Joy (2006)

Old Joy

Old Joy de Kelly Reichardt, 2006 EUA, 7/10

Em Old Joy (2006), subsistem dois filmes dentro de um. De um lado, um filme lento, de argumento minimalista, sobretudo contemplativo e dedicado à construção de um ambiente para embalar o espectador nos seus pensamentos. O outro filme, que surge em paralelo, baseia-se numa tensão que arranha os momentos de silêncio, que perturba a calma aparente, que vive nos olhares para o chão e no que fica por dizer, nas verdades aceites como inquebráveis. É no fundo uma questão de subtexto, de desbravar o que fica nas entrelinhas. As várias sequências em viagem, por entre as estradas do interior perdido do estado de Oregon, com as suas paisagens de subúrbios indistintos depois substituídos por florestas imponentes, prolongam a ausência de uma narrativa elaborada. É um filme onde a condição presente e o caminho percorrido pelas personagens até aí é mais importante do que a história que nos é apresentada. Tudo isto é sublinhado por uma banda-sonora vagabunda, escrita para o filme pelos norte-americanos Yo La Tengo, que ajuda a arrastar os momentos de transporte para um estado de suspensão.

A história que parece simples acaba por revelar-se mais complicada por causa das interações entre as personagens. Kurt, interpretado por Will Oldham, telefona a um velho amigo para convidá-lo para uma pequena viagem de campismo, algo que os dois podem ou não ter feito no passado, mas que entretanto afastaram-se e perderam contacto. Desde logo o telefonema provoca uma discussão entre esse amigo, Mark, com a mulher, que ainda por cima grávida, não aprova a escapadela, provavelmente receosa do regresso de uma má influência, de alguma história antiga entre os dois. Os primeiros momentos entre Mark e Kurt revelam a falta de jeito entre amigos que já não se falam há algum tempo, e os primeiros diálogos saem com dificuldade, mas a viagem avança.

Aos poucos, pelo isolamento que habitam nesta sua viagem, regressam a uma zona de conforto, com histórias cúmplices sobre aventuras passadas e amigos perdidos, mas estas conversas permitem perceber um ressentimento escondido, provocado pelos caminhos escolhidos por cada um, pelo tal afastamento. Kurt é um hedonista, sem grandes preocupações ou ligação a outras pessoas, enquanto Mark transformou-se nalguém com família, responsabilidades e avesso a desventuras. Entre momentos partilhados, há sempre a ideia do desapontamento de um no outro por razões diferentes, por cada um acreditar que é um perdedor aos olhos do outro, por verem no outro um retrato do que poderiam ter-se tornado. Este confronto de personalidades, amparado pela presença de Lucy, a cadela de Mark, e as paisagens inebriantes, avança como uma terapia conjunta em direção a um último acto como reconciliação final, que também pode ser uma última despedida.

Se no primeiro filme que referimos (o filme de contemplação) estabelece-se o modelo visual com que Reichardt trabalhará nos seus filmes seguintes, é no segundo filme (da tensão escondida) onde Reichardt começa a explorar o cinema como forma subtil de comunicar uma ideia, sem muitas palavras e contexto, e evocar assim o que está nas margens, o que fica por mostrar, através apenas de um conjunto de associação de imagens. Assim, estabelecem-se fronteiras invisíveis entre as pessoas, que respiram pela evocação de histórias passadas, e são as falhas na narrativa que nos é apresentada, que surge como um quadro incompleto, que mantêm a indefinição. Se Old Joy é um trabalho experimental na forma, é também por esse factor, por permitir observar Reichardt a acertar as agulhas desta estrutura. E sendo um exercício inteligente, é também um gesto desafiador, pleno de convicção.