novembro 24, 2012

Tout Va Bien (1972)

Tout Va Bien

Tout Va Bien, de Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin, França, 1972, 8/10

o texto pode ser lido no À pala de Walsh

novembro 06, 2012

eleições americanas (iii): The War Room (1993)

The War Room

The War Room, de Chris Hegedus e D.A. Pennebaker, 1993, 8/10
mini-ciclo eleições americanas (iii)

A war room a que se refere o título do filme é a sala caótica da sede de campanha de Bill Clinton, onde as duas principais figuras do filme tentam coordenar as operações e gerir uma equipa frenética e pouco disciplinada. São adjectivos também aplicáveis à própria campanha, marcada por um registo menos convencional, que ao quebrar com regras do passado conseguiu acabar com um longo ciclo de vitórias do partido republicano. Estamos em 1992, na eleição que opôs Bill Clinton a George Bush (e Ross Perot) e Hegedus e Pennebaker têm acesso ilimitado aos bastidores da campanha. O filme centra a acção nos dois responsáveis máximos do partido democrático, mas é James Carville, o estratega principal, que domina a atenção. Carville é abrasivo, é ele próprio uma figura pouco convencional dentro de um mundo fechado de políticos presos aos seus fatos e sondagens debaixo dos braços. A sua agressividade e vontade de vencer transbordam para as pessoas que o acompanham e isso reflecte-se na forma como a campanha é dirigida.

"it's possible to go to a situation and simply film what you see there, what happens there, what goes on, and let everybody decide whether it tells them about any of these things" - Pennebaker, 1971

O documentário aproxima-se da abordagem "direct cinema", caracterizada pela tentativa de minimizar o impacto do processo de filmagem, de maneira a capturar a realidade de forma mais natural, sem interferir com o que está a filmar. Sem recorrer a entrevistas tradicionais ou a narrações que conduzam a acção, a câmara procura apenas ser uma mera testemunha, uma presença mínima, mas mesmo assim observamos algumas alturas onde os intervenientes estão conscientes da presença da câmara e agem de acordo com isso. Se de facto assistimos desta forma ao quotidiano exaustivo de uma campanha política, entre reuniões informais para definir a agenda do dia e telefonemas intermináveis com os media, temos também acesso a momentos memoráveis, como a preparação para debates ou a elaboração dos discursos de vitória e derrota de Clinton. Uma vez que nunca existe contextualização, nem uma referência temporal, estes momentos acabam por perder algum do seu impacto, porque tornam-se equivalentes aos momentos mais triviais. Mas é uma escolha, que ao permitir uma normalização destes processos políticos, consegue eliminar o espectáculo da política, porque o importante é o filme como um todo e não apenas momentos isolados. Porque os momentos em que a câmara é quase a única testemunha, em que funciona como um confessionário para a posterioridade das emoções que afectam os intervenientes nos momentos mais intensos, mais que compensam qualquer constrangimento estilístico. Prova disso é a força das imagens finais, onde o discurso final de Carville aos seus colegas sobrepõe-se ao discurso de vitória de Clinton - que tem sempre uma presença periférica no filme - efectivamente validando Carville como figura central e reconhecendo a sua importância  na política americana.