fevereiro 25, 2011

Oscar 2011: Melhor Documentário

Nomeados:
Exit Through the Gift Shop de Banksy - 9/10
Inside Job de Charles Ferguson
Restrepo de Tim Hetherington Sebastian Junger - 8/10
Gasland de Josh Fox - 7/10
Waste Land de Lucy Walker

provável vencedor: Inside Job
favorito pessoal: Exit Through the Gift Shop
desejo para a noite dos Óscares: Mr. Brainwash a aceitar a estatueta no lugar de Banksy.

Inside Job


Inside Job de Charles Ferguson, EUA 2010, 9/10
nomeado para Oscar Melhor Documentário

Charles Ferguson já tinha desmascarado as operações da Casa Branca no Iraque em "No End in Sight" e volta a fazê-lo, agora sobre a crise financeira de 2008, de modo igualmente esclarecedor e acusatório, em "Inside Job". Aliás, de um modo tão informativo e conciso que podemos considerar "Inside Job" como análogo a outro documentário marco do género infomentário, "An Inconvenient Truth". Ao contrário do filme de Al Gore que tem apenas um orador, em "Inside Job" Ferguson apoia-se em depoimentos de vários peritos conceituados e envolvidos no tema, e a pluralidade de opiniões ajudam a formar o quadro completo do que se passou. Se é demasiado convencional dentro do género em que se insere, utilizando as típicas entrevistas, gráficos informativos e uma narração (Matt Damon) para ligar todas as peças, neste caso para conduzir o filme através de uma linha narrativa construída, isso só joga a seu favor dada a complexidade e abstracção do assunto abordado. A simplicidade com que consegue desarmar um tema complexo e enunciar as várias fases do problema numa estrutura cronológica acaba por ser um dos atributos do filme.

"Inside Job" revela-se o título perfeito para tudo o que aconteceu, e para o objectivo que o filme pretende demonstrar. Além de uma perfeita lição sobre o funcionamento e origem da crise, assistimos também a uma completa e incriminatória exposição de factos incontestados, que passa por mostrar como: uma política continua de desregulamentação e liberalização do sistema financeiro, a escolha de elementos ligados a bancos de investimento para lugares importantes no definir das políticas económicas da Casa Branca, a criação de produtos financeiros cada vez mais arriscados e artificiais, e o conluio entre bancos, empresas seguradoras e agências de rating, tudo em conjunto, contribuiu para o desmoronamento de um modelo. Inside Job tem outro trunfo escondido que realmente o eleva a algo de extraordinário, que passa então pelo título do filme e pela conclusão para o que o filme caminha em toda a sua narrativa. Na parte final, vários peritos são desmascarados como beneficiários directos das políticas e teorias que defendem, de um gravíssimo conflicto de interesses que normalmente os impediria de darem a sua opinião por perderem qualquer validade, aqui expostos pela primeira vez. O conflito de interesses não é só entre o governo, bancos e faculdades. Existe dentro do próprio filme, quando pessoas que passaram o filme todo a defender um ponto de vista são desmascaradas como ganhando quantidades obscenas de dinheiro a defenderem esse ponto de vista como consultadores para agentes financeiros, e esse desmascarar é notável, é o golpe de graça do filme. É um dos grandes males da economia actual: o facto de os definidores de políticas beneficiarem das teorias que apregoam, que lhes enchem os bolsos à medida que se vão provando nefastas para o resto da população, com resultados práticos bastante evidentes. O mais alarmante e a conclusão final do filme é que nada mudou, caminha-se ainda na mesma direcção, e a imunidade e conluio entre políticos, banqueiros e opinion-makers continua, preparando o próximo ataque.


fevereiro 24, 2011

Gasland


Gasland de Josh Fox, EUA 2010, 7/10
nomeado para Oscar Melhor Documentário

Ver que perante a proximidade da chama de um isqueiro a água que escorre da torneira de uma cozinha entra em combustão, ou animais a perderem pêlo e peso como se tivessem sido expostos a radiação quando apenas beberam água de um riacho nem é a coisa mais impressionante no filme. O documentário, realizado e produzido de forma quase artesanal com poucos meios tem um trunfo a seu favor, já que o realizador é alguém que foi directamente afectado pelo tema que aborda "Gasland". Após ter recebido uma proposta de uma companhia de energia para explorar os direitos minerais da sua propriedade, Josh Fox decide investigar o real propósito e possíveis consequências que aquela oferta envolve. Em pouco tempo descobre casos semelhantes ao seu, em que a aceitação da oferta teve resultados desastrosos: a contaminação das reservas de água que acontecem a partir da exploração de reservas de gás natural, através de um processo denominado "fracking". Basicamente, o tipo de perfuração utilizado para chegar ao gás acaba por fracturar o subterrâneo, quebrando as barreiras de separação entre as reservas de água e as reservas de gás. Depois, usando uma quantidade enorme de químicos tóxicos para extrair o gás para a superfície, estes químicos acabam por contagiar a água. Esta contaminação da água e do subsolo, não é anunciada nem prevenida pelas empresas que extraem o gás, e pior, acaba por pôr em perigo a saúde das pessoas que habitam essas áreas ou vivem da água, agricultura ou animais subjacentes a esses solos. Fox, como narrador-investigador do documentário revela inúmeros casos de pessoas que adoeceram, alguns entrevistados durante o filme, e alguns casos em que as pessoas não sobreviveram. Porque o mais assustador em "Gasland" é a escala a que se joga com a saúde pública, a saúde de pessoas que no filme deixam de ser meras estatísticas para terem uma cara. É a sustentabilidade do futuro de uma sociedade que é arriscado aqui. O que é realmente assustador e exposto em Gasland é a cegueira corporativa e o conluio político apresentados, o ponto até onde se está disponível a ir na procura de lucros, a ocultação dos estragos ambientais, a compra de silêncios ou a litigação contra quem ameaçar expor o perigo real.

Em Gasland é como se assistíssemos finalmente à materialização dos perigos expostos em "Food Inc.", como se de repente fosse mais fácil ver os efeitos da poluição escondida e a contaminação dos alimentos quando se abrem aquelas torneiras cuja água é inflamável. É como ver finalmente uma representação física da ganância explorada em "Inside Job", dos incentivos aos ganhos a curto-prazo que motivam a indústria, ao mesmo tempo que se envenena, literalmente, as reservas futuras de água. É mesmo uma explosão de clarividência que é impossível não notar, abismados. Fox parte num road movie à procura de mais exemplos, mais testemunhos, que vão surgindo à medida que a exploração do gás se vai multiplicando por diferentes campos de extracção, e aparecem diferentes casos de contaminação e doença. É também uma viagem pela américa rural, américa esquecida e sacrificada. Mesmo que o formato deste documentário se revele limitado, e que falte um estudo mais esclarecido e conciso do problema envolvendo depoimentos de peritos na área como existe em "Food Inc.", apesar da repetição que se instala quando deixa de haver novo material e alguns passos em falso ao puxar por momentos emocionais, que não têm ligação com o espectador, "Gasland" é importante. É um abrir de olhos necessário a um problema que está demasiado escondido no subterrâneo da agenda jornalística e uma chamada de atenção para o perigo de combustão do modo de vida e modelo da sociedade.



fevereiro 23, 2011

Restrepo


Restrepo de Tim Hetherington Sebastian Junger, EUA 2010, 8/10
nomeado para Oscar de Melhor Documentário

A punchline que surge no final do filme não é mais do que a súmula do que vamos pensando durante o filme a partir de certo ponto: a inutilidade, a futilidade abrasiva de tudo aquilo. Menos do que uma conclusão, é  um soco retroactivo. Restrepo é uma base do exército americano no meio de um vale afegão onde decorrem as mais sangrentas batalhas no país desde a presença americana no terreno: 40 soldados americanos morreram, centenas ficaram feridos, e as vítimas entre a população local, quer sejam meros civis ou afegãos ao serviço dos taliban, são tão elevadas que não existem números oficiais. Restrepo é também o nome de um soldado americano que aparece brevemente no início do documentário, cuja morte leva os outros soldados a darem o seu nome a um posto avançado que vai ser fundamental para deter o avanço do inimigo. O posto Restrepo torna-se assim um símbolo mutável: primeiro, uma base frágil cavada à mão no topo de uma colina cuja existência inóspita e perigo constante torna-o num local de sofrimento exaustivo; mais tarde, à medida que vão melhorando as condições e que se vai aguentando como uma importante base para dificultar as operações taliban na zona torna-se num símbolo da resistência, da díficil presença contínua americana no solo. O posto acaba assim por honrar o soldado Restrepo através de uma preserverança que os soldados julgam apropriada, um motivo de orgulho, numa evolução acompanhada ao longo do filme. Mas é uma evolução também acrescida de um derrotismo crescente, de uma degradação da moral dos soldados ali colocados, visível e ainda muito actual.

O filme faz duas escolhas estilisticamente importantes. Primeiro, procura um elevado nível de objectividade e nível de assimilação junto dos sujeitos que acompanha. Focando apenas a acção com um mínimo de contexto apresentado, num enorme afunilar de perspectiva, somos atirados para o meio da acção sem saber exactamente o que se está a passar. Colocando-se ao lado dos soldados que filma, a câmara desaparece mas ganhamos acesso a tudo, através de uma passagem de interveniente activo para testemunha camuflada. Este tom distanciado é logo estabelecido violentamente no primeiro plano do filme quando ao filmar um jipe por entre as estradas montanhosas, de repente ouvimos uma explosão e assistimos ao desenlace de um ataque à coluna americana - a confusão instala-se, a câmara continua a filmar, o som desliga-se da realidade mas o sangue esbatido na câmara é real, como real é o choque. Não é normal assistirmos a soldados nervosos antes de ultrapassarem uma colina, sermos educados sob o perigo real que espreita do outro lado, e depois ver a câmara seguir em frente, para encontrar um dos soldados ferido mortalmente, e o desamparo e desorientação frágil dos seus companheiros que se segue.

A outra escolha relevante do filme é mais convencional mas que joga aqui com a anterior. Interlaçado com as filmagens efectuadas no Afeganistão durante 2008 vão surgindo excertos de entrevistas com os soldados que fizeram parte daquela campanha. O importante porém é que os depoimentos foram gravados a posteriori, ou seja, alguns meses depois de os soldados terem regressado a casa. Isto desarma de alguma forma a tensão que vivemos dentro do filme pelo modo como a acção nos é apresentada: estes soldados vão sobreviver ao que estamos a ver (com duas ressalvas: um, nem todos os soldados são entrevistados por isso a segurança de todos não está garantida; dois, pela forma como os soldados são filmados de tão perto durante as entrevistas é natural esperar que a qualquer momento um zoom out revele uma cadeira de rodas ou um braço amputado). O significativo é que esta divisão temporal não é imediata para os soldados que ouvimos. A inabilidade deles fazerem essa distinção temporal, de se alienarem do que aconteceu e separarem o presente do passado é preocupante, mostra as feridas abertas por cicatrizar. É um retrato psicológico perturbante que nos é apresentado e ilustra a opção do filme em usar o julgamento subjectivo de quem viveu em primeira mão a experiência de combate, para completar um ponto de vista objectivo na forma como as filmagens no terrreno são expostas. Restrepo esforça-se por apresentar uma tela em branco para cada um tirar as suas conclusões, sem forçar uma agenda política, deixando as questões em aberto mas proporcionando material relevante para as colocar. Cada um chegará a ilações a partir das próprias suas construções e ideologias, contudo a frase que fecha o filme é demasiado incriminatória para não provocar uma reacção.

fevereiro 22, 2011

Óscares no Ípsilon

A crítica sobre o filme do Banksy, "Exit Through the Gift Shop",  foi escolhida pelo Ípsilon como uma das vencedoras do concurso de textos sobre os filmes nomeados para os Óscares deste ano, e além de proporcionar a hipótese de assistir à cerimónia na redacção do jornal, resultou na publicação do texto no site - podem ler aqui: http://ipsilon.publico.pt/Oscares/texto.aspx?id=277940

fevereiro 18, 2011

Fantasporto 2011


http://www.fantasporto.com/
sugestões da programação:

Grande Auditório
Segunda-feira, 21 de Fevereiro
21.15h – 127 Horas - Danny Boyle - EUA - trailer
nomeado para Oscar Melhor Filme
23.15h – I Saw the Devil - Kim Jee-won - Coreia do Sul - trailer
do realizador de "A Tale of Two Sisters"

Terça-feira, 22 de Fevereiro
21.15h – The Housemaid – Im Sang-Soo – Coreia do Sul - trailer
selecção oficial Festival Cannes 2010
23.15h – A Serbian Film - Srdjan Spasojevic - Sérvia
filme censurado devido à sua violencia extrema, que desde logo um breve olhar à sinopse permite imaginar (completamente não recomendado).

Quinta-feira, 24 de Fevereiro
23.15h – Carancho - Pablo Trapero - Argentina - trailer
thriller argentino com Ricardo Darín, secção Un Certain Regard do Festival Cannes 2010

Sábado, 26 de Fevereiro
17.00h - Hahaha – Hong Sang-soo - Coreia do Sul - trailer
prémio secção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2010
23.15h – And Soon the Darkness- Marcos Efron - EUA - trailer
série b, terror entre o "Turistas" e "The Ruins", isto é, mais férias estragadas. Alta probabilidade de sustos gratuitos, decisões idiotas e momentos nojentos. 

Domingo, 27 de Fevereiro
21.15h – The Housemaid – Im Sang-Soo - Coreia do Sul

Segunda-feira, 28 de Fevereiro
23.15h – The Tempest - Julie Taymor - Inglaterra - trailer
a realizadora de "Across the Universe" e "Frida" volta a adaptar Shakespeare depois de "Titus"

Terça-feira, 1 de Março
23.15h – I Saw the Devil - Coreia do Sul

Quarta-feira, 2 de Março
17.00h - R U There – David Verbeek - Holanda - trailer
secção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2010


Sexta-feira, 4 de Março de 2011
21.15h - The Rite – Mikael Hafstrom – EUA - trailer
blockbuster americano com Anthony Hopkins, "The Exorcist" e "The Omen" reciclados, sustos garantidos e possibilidade de fortes enjoos
23.15h – Splice - Vincenzo Natali - EUA - trailer
sci-fi do realizador do "Cube". Probabilidade de chuva torrencial de momentos nojentos


Pequeno Auditório
Sexta-feira, 25 de Fevereiro
21.00h - Zombie Undead – Rhys Davies - trailer
se o seu objectivo é ver todos os filmes com zombies no título, tem aqui uma oportunidade
23.00h - La Bête Humaine – Jean Renoir

Segunda-feira, 28 de Fevereiro e Terça-feira, 1 de Março
21.00h – Sessão especial com a apresentação interactiva de Sufferrosa -  A Web Interactive Film - trailer
what happens in the movie depends entirely on the viewer’s choice. With over 110 scenes, 3 alternative endings, 20 different locations and 25 actors to choose from, Sufferrosa is one of the biggest interactive web-based movies ever made

Sábado, 5 de Março
21.00h – Le Caporal Épinglé – Jean Renoir