fevereiro 21, 2013

Kon-Tiki (2012)

Kon-Tiki

Kon-Tiki de Joachim Rønning e Espen Sandberg, Noruega 2012, 5/10
nomeado para Oscar Melhor Filme Estrangeiro 2013

Este é um filme que retrata um feito extraordinário de forma frívola. O acontecimento é a travessia do oceano pacífico a bordo de uma jangada conduzida apenas pelas correntes marítimas, para provar que os ascendentes dos povos das ilhas polinésias provinham da América do sul. É uma teoria sem crédito em 1947, altura em que decorre a acção do filme, e por consequência esta será uma expedição com poucos meios, apenas possível devido à perseverança obstinada do seu líder, a personagem central do filme. É através desta personagem, Thor Heyerdahl, que o filme expõe a sua carta de intenções e constrói o seu arco narrativo, delimitando o género a que aspira - um simples filme de aventuras, sem grandes divagações filosóficas.

Thor é uma figura intrigante, perigosamente egoísta e inabalável na sua procura de validação, no que pode ser entendido como uma forte necessidade de aceitação. Seria interessante investigar o que motiva as outras personagens a acompanhar Thor nesta missão arriscada, mas o filme nunca o faz, apenas apresentando estas personagens prontas a embarcar, num discurso de poucos minutos. Um dos problemas do filme é que não há grandes explicações científicas para a teoria de Thor, antes uma convicção quase religiosa, baseada numa visita à Polinésia anos antes. O primeiro acto do filme arrasta-se como um longo prólogo, durante largos períodos de exposição da história, para tentar contextualizar a necessidade de Thor em arriscar tudo neste seu acto de fé. É especialmente nesta parte que a dupla de realizadores (responsáveis por exemplo pelo veículo Penélope Cruz/Salma Hayek Bandidas) banaliza a história, recorrendo a clichés e soluções de encenação rotineiras, como os flashbacks da infância de Thor ou da sua primeira viagem à Polinésia, aludindo à escolha posterior entre abandonar a sua companheira em terra ou prosseguir a expedição. Mais uma vez não há realmente uma resposta para a sua escolha, que é ilustrada apenas pelo silêncio de uma chamada telefónica que cai.

O minimalismo inerente à ideia de filmar uma viagem num barco à deriva durante várias semanas poderia ser cativante, tal como a escolha para ilustrar a deterioração mental dos seus viajantes. O cenário reduzido e repetitivo, a falta de interacção com o exterior, o silêncio e o abandono aos elementos naturais poderiam acentuar o isolamento, as dúvidas, levar à contemplação interna. Mas em vez de oferecer espaço e tempo para pensar nas implicações de tal isolamento, através do desgaste nas expressões dos actores, a opção é precisamente o inverso do minimalismo. Escolhendo externalizar os problemas internos de foro psicológico em imagens, com alusões a alucinações, rapidamente torna-se necessário exemplificar o desgaste da viagem em comportamentos irracionais que se tornam quase cómicos. O problema da compressão de tempo no filme, durante a fase mais tensa, leva a que as personagens ainda em formação comecem a agir sem nexo, complicando a ligação emocional do espectador ao filme.

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