novembro 20, 2013

Belle de Jour (1967)

Belle de jour

Belle de jour (1967) de Luis Buñuel
o texto sobre o filme pode ser lido no ÀPaladeWalsh

novembro 06, 2013

Gravity (2013)

Gravity de Alfonso Cuarón, 2013, EUA, 8/10

Gravity

Gravity é o equivalente a nadar numa piscina sem pé e sem bordas, sem possibilidade de descanso. A vulnerabilidade do espectador - por não saber o que vai acontecer - convive com a vulnerabilidade das personagens - por estarem sós - numa simbiose que ampara o filme. Cuáron afirma desta forma o paralelo entre a fragilidade humana e a sua resiliência, num elogio ao espírito de sobrevivência que tende a vir à superfície quando as circunstâncias são piores. Apesar de todo o aparato tecnológico, partículas em 3D e longos takes, é o foco constante no minimalismo da sobrevivência de uma personagem que é o oxigénio do filme. Tal como em Castaway, o filme é um teste existencialista, sobre o renascer da vontade de viver, ao perceber que se está só, e quando confrontado com a mortalidade, como enfrentar a própria efemeridade.

O actor transforma-se no único ponto de referência, e a sua respiração sôfrega torna-se a âncora para a empatia do espectador, sinal de um coração agitado. A solidão e desorientação tornam-se evidentes à medida que surgem as dificuldades intermináveis: o filme compartimenta a acção numa série de obstáculos que são necessário ultrapassar, para ultrapassar o obstáculo final, como que numa lição de vida de como reduzir sucessivamente os problemas à mais pequena tarefa, até à seguinte. O percurso da personagem define-se em direcção ao tal teste final, entre parar ou não desistir, tal como acontece em Castaway - há que escolher continuar a empurrar a pedra colina acima porque um dia ela pode não descer.

É isto suficiente para criar um objecto cinematográfico de relevo? Sim, pela parte em que procura testar os limites que fazem funcionar o próprio meio. A criação de um mundo fechado, definido por regras próprias que lentamente são testadas, como constrangimentos: uma imersão sem saída e total no cenário criado; um único ponto de contacto (o actor), isolado num cenário que o ataca por todos os lados; a possível redenção que aparece perto do fim, mas que mesmo assim parece inatingível - a terra ali tão perto mas tão longe - são elementos que repetem-se desde Children of Men. Quando parece que já tudo foi inventado, é na capacidade de entregar-se à imaginação do espectador que reside o maior trunfo de Gravity. Porque por toda a solidão que nos é mostrada, é uma alusão a uma imagem que não é vemos que pinta o quadro de maior solidão: a da personagem de Sandra Bullock a guiar sozinha por noites intermináveis, para adiar o regresso a uma casa vazia.