Os Verdes Anos (1963) de Paulo Rocha
Vi ontem pela primeira vez o primeiro filme do Paulo Rocha, demasiado tarde, mas fui perdendo as poucas oportunidades em que o filme era exibido no Porto, e fui resistindo a ver o filme nas cópias de baixa qualidade que circulam pela net (vhs-rips, youtube) - desistia sempre passado alguns minutos, por medo de estar a perder a hipótese de ver o filme com as condições que merecia. Essas condições estão agora aí, com um magnifico restauro digital (se já viram o filme, vale a pena rever, porque acreditem que nunca viram e ouviram o filme desta forma) e ainda por cima, com a exibição em algumas salas de cinema (juntamente com o segundo filme, Mudar de Vida): seria trágico que não fossemos todos a correr para ver este monumento do cinema português numa tela grande, e é preciso aproveitar as escassas oportunidades em que filmes como este são respeitados, para prestar o nosso respeito.
No fim do filme, a primeira impressão é a vontade de rever e rever e obcecar com o filme até à exaustão (estes dois filmes estão finalmente editados em dvd há uma semana). Os Verdes Anos, cinquenta anos depois da sua estreia, é uma obra eminentemente actual e emotiva, do fundo do coração, representativa de um país (quer da década de 60, quer hoje), e de um cinema, cuja identidade muito deve a este filme. O filme é pontuado por um sentimento agridoce, que entre momentos de esperança e outros mais desoladores, revelam a delapidação da inocência do casal de personagens principais. Portugal foi, e ainda é, um país de migração para centros urbanos, de rapazes e raparigas das aldeias à procura de uma vida melhor, de um sonho - não será o sonho americano, mas também deveríamos ter o direito a sonhar. E se a emigração para outro país era muitas vezes a última alternativa naquela década, como parece ser para aquele casal, que não via maneira de as coisas mudarem à sua volta, presos à sua condição, é algo que vai repetindo-se, e repete-se nos dias de hoje. É esta a força de um filme como Os Verdes Anos, a força de embatermos de frente com o nosso passado, de não o esquecermos, porque não o podemos esquecer.
[Mudar de Vida (1966) será exibido hoje no Rivoli pelo Porto/Post/Doc; amanhã será a vez de Se eu Fosse Ladrão, Roubava (2011). Os Verdes Anos e Mudar de Vida estão também em exibição em diferentes cinemas (e irão percorrer os cineclubes posteriormente)]
[Mudar de Vida (1966) será exibido hoje no Rivoli pelo Porto/Post/Doc; amanhã será a vez de Se eu Fosse Ladrão, Roubava (2011). Os Verdes Anos e Mudar de Vida estão também em exibição em diferentes cinemas (e irão percorrer os cineclubes posteriormente)]