The Wolfpack (A Matilha, 2015) de Crystal Moselle, EUA 7/10
visto no Porto/Post/Doc - texto original aqui
A grande descoberta dos primeiros dias do festival foi The Wolfpack (A Matilha, 2015) de Crystal Moselle, exibido na sessão de abertura fora de competição. Um documentário sobre um grupo de seis irmãos que chega à adolescência sem quase nunca ter saído do apartamento em Manhattan onde vivem, e cujo único acesso ao mundo exterior é através dos filmes que vêem e que passam os dias a recriar apaixonadamente. Este documentário mostra uma das mais bizarras e fascinantes histórias dos últimos tempos, e um olhar inesperado sobre a cinefilia. Uma história surpreendente a todos níveis, para a qual muito ajuda a abordagem de Crystal Moselle, que não dá qualquer contexto à acção, excepto as próprias palavras dos diferentes irmãos.
Filhos de um pai religioso que os fechava à chave em casa, em vez de irem à escola eram ensinados pela sua mãe, e o único ponto de contacto com o mundo fora do apartamento é uma extensa colecção de filmes, através da qual constroem a sua própria mitologia de como funciona o mundo lá fora: a família é importante por causa do The Godfather (O Padrinho, 1972), a história americana é aprendida a partir de JFK (1991), etc, ou seja, todos os filmes eram para eles como documentários. É o cinema como meio de educação e ensinamento moral, como encarregado de educação. Se o cinema sempre foi uma forma de escape, torna-se aqui também como um meio de expressão, de sobrevivência perante a sua realidade mais próxima. A forma como Crystal Moselle analisa as relações familiares evoca o espanto de Grey Gardens (1975) ou Capturing the Friedmans (2003), mas o que fica desta história extraordinária é a esperança nestes irmãos na sua redenção.
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