De Jason Reitman, argumento de Diablo Cody
Com Ellen Page, Jason Bateman, Jennifer Garner
5/10
Juno é um filme que encaixa num sub-género recente com bons resultados a nível da crítica ou financeiro – o típico filme indie americano de baixo orçamento, com actores pouco conhecidos e com um argumento semi-crítico e sarcástico da sociedade de suburbia, sublinhado por música sóbria mas intrusiva. Ver Little Miss Sunshine, Thumbsucker, The Royal Tenembaums, The Squid & the Whale. Infelizmente, não está ao mesmo nível destes últimos, e nem sequer atinge o estatuto de cópia bem intencionada. A premissa, uma rapariga estudante de 16 anos que engravida e tem que lidar com as variadas reacções de uma miríade de personagens secundárias é interessante e poderia funcionar, mas entra num percurso demasiado perdido em detalhes que não são centrais à historia e não oferece um arco quer convincente, quer emocionalmente apelativo.
Qualquer argumento centrado numa história de gravidez tem um ponto fulcral: a cena em que a personagem considera um aborto e eventualmente decide não o fazer – e é aqui que Juno começa a desviar-se de algo mais profundo: não existe um sentimento de grande incerteza ou planeamento das consequências do resultado da escolha, nem envolvimento ou do rapaz ou dos pais, e o motivo, as possíveis unhas do feto (que “tanto” atormentam a rapariga durante os segundos que está na clínica, apresentado quase numa espécie de montagem explicativa mais típica de uma comédia de Hollywood) parece forçar a gravidez a continuar para... o filme poder continuar – não há nenhuma argumentação, como se a gravidez funcionasse como o macguffin do filme. Poderia pensar-se que isto seria compatível com uma historia do ponto de vista de uma adolescente de 16 anos que não se detém muito sobre o que fazer, numa espécie de raciocínio vazio próprio da idade, mas não é esse o objectivo, tendo em conta a maturidade e inteligência demonstrada mais tarde pela personagem.
É esta falsa perspicácia que torna o filme interessante, e que reside basicamente na actuação de Ellen Page, mas que é ofuscada por factores que interrompem a narrativa da história sempre que aparecem (e nos removem do seu ponto de vista), especialmente nas 2 personagens frívolas dos futuros pais adoptivos, meras caricaturas que ocupam demasiado tempo do filme. A mãe adoptiva, completamente obcecada para ter qualquer profundidade, e o pai adoptivo, uma colagem de referências de cultura pop com o qual se tenta criar uma frágil possível relação amorosa com Juno. É aqui que reside outra limitação do argumento: devido à quase ausência de relação entre Juno e o namorado, para manter a típica formula boy meets girl / boy falls for girl / boy loses girl / boy gets girl back, desenvolve-se uma insinuação a essa possível relação entre Juno e o pai adoptivo, que apenas tem carácter substituto para manter o enredo vivo; o factor “boy loses girl” que é sempre um pormenor idiota como um telefonema perdido ou uma situação que parece que é o que não é aqui limita-se à ausência de comunicação, e no fim a formula encontra a sua resolução esperada sem que exista qualquer desenvolvimento verdadeiro da relação original. Apenas uma variância do modelo de comédia-drama à Hollywood.
O diálogo inteligente e sarcástico de Juno é a principal característica do filme, mas infelizmente este estilo estende-se implausivelmente ao resto das personagens, eliminando uma maior diferenciação das personagens, resultando num efeito em que todas as personagens falam a uma mesma voz.
Sobre os enquadramentos, apenas 2 momentos relevantes: o plano distante com os corredores que se repete para introduzir as diferentes estações, que perde o seu objectivo subtil-sarcástico; e o momento em que Juno e a mãe adoptiva encontram-se no shopping e Juno pergunta à mãe se esta não quer sentir o bebé na sua barriga – corta para um plano de baixo para cima (ponto de vista da mãe) e outro plano de cima para baixo (ponto de vista de Juno) – demagogia de composição.
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