abril 12, 2008

No Country for Old Men

No Country for Old Men, 2008
de Ethan & Joel Coen
com Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin, Kelly Macdonald
7/10
No Country for Old Men é a adaptção dos irmãos Coen ao livro de Connor McCormack, uma adaptação bastante literária, não que isso influencie a qualidade do filme, mas significativo dado que é apenas a segunda vez que os Coen baseam uma obra sem ser num texto seu (a outra altura, uma adaptação muito livre da Odisseia de Homero).

Existem alguns traços narrativos que estruturam o argumento de uma forma única que merecem uma referência:
- a falta de diálogo (ou diálogo esporádico) quando comparado com as inúmeras cenas de acção, em que vemos apenas os personagens fazer algo como oposição a falarem sobre isso, quase como sugerindo uma falta de razão para essas acções – acontecem porque têm que acontecer;
- a exposição narrativa proporcionada pela personagem de Tommy Lee Jones, que introduz vários pequenos contos como comentário, ou a procura de contar uma história para dar significado ao filme como um todo, como se o filme fosse uma analogia na procura de uma história para funcionar como paralelo aos contos de Tommy Lee Jones, enquanto este comenta os acontecimentos;
- a abordagem após o desaparecimento da personagem de Josh Brolin, numa sequência de alusões off-screen e pistas subtis sobre a sucessão de eventos

A cinematografia (de Roger Deakins, que na mesma altura foi responsável pelos excelentes “The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford” e “In the Valley of Elah”) é magnífica, explorando a luz exasperante do sol texano nas vastas paisagens desertas, o elenco é magnifíco (Javier Bardem!) e a montagem (a sequência em que Brolin espera por Bardem no outro lado da porta – um longo take enquanto nada acontece e depois inúmeros cortes rápidos à la “Psycho” mal começa a acção) é magnífica também – mas o filme como um todo deixa algo em branco, talvez derivado da abordagem em relação ao final. Ao seguir o livro mesmo no seu fim enigmático, não posso deixar de pensar numa certa desresponsabilização dos Coen ao não tentar encontrar uma visão própria para o desfecho, mas também é verdade que numa história derivativa sem um foco central este tipo de fim aberto pode ser aceite.

É um território familiar aos filmes dos Coen, com referências à mala de dinheiro e tiroteios de Blood Simple, aos psicopatas de Fargo e as suas paisagens desoladoras, à intriga de Miller’s Crossing. Como se os Coen decidessem evocar o imaginário revisitado em outros filmes para tentar construir este filme, ao mesmo tempo que procuram desconstruir os signos do cinema americano moderno, reduzindo-os ao essencial.

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