5/10
de Ridley Scott
Body of Lies é um filme-fórmula do tipo thriller político global, com marcas de filme de espionagem high-tech e considerações sobre o estado actual do terrorismo nas relações internacionais. É inferior ao filme Spy Game (7/10) de Tony Scott no mesmo conceito de agente no terreno liderado por alguém mais velho a operar à distância no aparelho burocrático em Washington, especialmente no aspecto de construcção eficaz de um ambiente tenso sem nunca atingir o sentido de urgência ou intriga inteligente do filme com Robert Redford.
É também repleto de pequenas reflexões e críticas tépidas sobre as políticas americanas pós 9/11, especialmente sobre a convivência com as autoridades locais do médio-oriente, mas também aqui nunca atinge o tom complexo e elaborado de Syriana (8/10), de forma a que as pretensões a um filme mais profundo e analítico sobre a acção das forças americanas não passam de mero exercício vazio (assim como a conclusão do filme – apenas uma trama improvável construída para ser resolvida no último momento, que apenas funciona devido à ignorância sobre os eventos em que o espectador é colocado).
Parte da fórmula é a hiper-estilização do filme: planos apertados sobre o rosto das personagens, cortes rápidos, cinematografia baseada em tons verde e azul escuro, inserts constantes de jipes a rodar a toda a velocidade, utilização de imagens de satelite e telemóveis, tudo sublinhado por música étnica que acaba por ser uma colagem pouco inovativa, sempre a martelar na mesma tecla – afinal, são ideias desenvolvidas por Ridley Scott em Black Hawk Down (7/10), que de certa forma criou aí a fórmula estilística base contemporânea para este tipo de filmes. A falta de ideias novas é exemplificada pelo modo como a personagem de Russel Crowe é repetitivamente filmada em acções banais e despreocupadas em casa (a tratar do filho) como contraste às acções tensas no terreno da personagem de DiCaprio, uma imagem repetida infinitas vezes.
Há mérito no enredo pela introdução da relação amorosa entre a personagem de DiCaprio e uma enfermeira local (a iraniana Golshifteh Farahani, numa performance captivante), especialmente pelo modo como explora e procura demonstrar as condicionantes e consequências de uma tal relação entre um estrangeiro e uma local (a melhor sequência do filme – o almoço em casa da irmã), e pela interpretação de DiCaprio, que mais uma vez dá tudo o que tem ao filme, mas que é insuficiente para que o filme seja algo de inovador ou realmente diferenciador entre os filmes do mesmo género, apenas um produto bem executado.
Uma nota final para esta notícia infeliz, que relata como a actriz Golshifteh Farahani ficou impedida de sair do país após a estreia do filme.
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