de Suroosh Alvi e Eddy Moretti
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A segunda parte mostra-nos a história surreal destes músicos e a situação no Iraque através dos seus olhos – existem vários níveis na abordagem: desde a situação de insegurança e desconfiança completa (quando a policia é apenas outra milícia e circular na rua é uma dificuldade diária), do isolamento do resto do mundo e falta de meios para ter uma vida normal (uma simples deslocação a casa do amigo é um perigo quotidiano), até às especificidades de ser músico de heavy metal no Iraque: o facto de não poder usar cabelo comprido ou o perigo de utilizar t-shirts de bandas americanas, isto é, a pressão do extremismo islâmico sobre a sociedade – que aumentou exponencialmente após a queda do regime de Saddam, substituído por vários líderes fundamentalistas religiosos – e consequente dificuldade em ser aceite pela música que gostam pelo perigo que o fascínio pela cultura ocidental numa tal sociedade envolve, ou a simples dificuldade em praticar música ou dar concertos. Vemos em primeira mão os efeitos da invasão americana e o caos diário em Baghada: pouco depois do ínicio da guerra os membros da banda, apesar de viverem todos na mesma cidade, deixam de se falar ou encontrar uns com os outros porque é impossível viajar em segurança por alguns bairros e a precariedade das condições quotidianas força-os a terem outras preocupações. Uma observação interessante é feita por um dos membros da banda ao rejeitar os estereótipos de separação sectorial, afinal ele, um Sunita é casado com uma Xiita - mas o filme nunca tenta politizar a história deles.
Existe tambem um lado humanista importante exactamente na rejeição de estereótipos por parte do filme – afinal estes 4 jovens apenas querem ter a possibilidade de ter um escape na música, de poder tocar e dar concertos, mostram um forte fascínio cultural pela cultura metaleira produto do ocidente, os cabelos longos e t-shirts pretas, aliado ao facto de falarem fluentemente inglês, até com influências como repetir palavras típicas (“dude”) de uma juventude americana idealizado pelo contacto que estes iraquianos têm com essa cultura através de filmes ou revistas – permite construir um retrato eficazmente humano das individualidades destes 4, diferentes de quaisquer generalizações e preconceitos de que são todos terrorristas-fanáticos sem cultura, humanizando estes iraquianos ao os colocar num nível semelhante a outros jovens músicos rebeldes em qualquer outro lado do mundo, e que aqui são forçados a subsistir em situações de extraordinárias dificuldades. É aqui que sobressai o lado do filme como um triunfo humanista: a visão do realizador que se concentra nestes 4 jovens como músicos aspirantes, certamente que em circunstâncias impossíveis, mas nunca reduzidos à sua étnia ou condição.
O filme mostra também outra consequência da miséria iraquiana, o êxodo para a vizinha Síria onde são cidadaos de segunda (o sentimento de estar longe de casa), onde esforços para continuar a sua veia musical representam a importância da música nas suas vidas para sobreviver ao quotidiano e a um futuro sem esperança.
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