...So Goes the Nation de Adam Del Deo e James D. Stern, 2006, 8/10 -
trailer
mini-ciclo
eleições americanas (ii)
Este é um documentário que retrata os últimos dias da campanha de 2004, que opôs George W. Bush a John Kerry. A expressão que diz "as Ohio goes... so goes the nation" tem fundamento no facto de nunca nenhum candidato presidencial ter sido eleito sem vencer o estado de Ohio - com a excepção de JFK em 1968. E de facto, na eleição de 2004, Ohio viria a revelar-se decisivo. As sondagens realizadas à saída das urnas não conseguiam prever um vencedor e Ohio foi mesmo o último estado a revelar os resultados da noite, com o vencedor do estado a ganhar a eleição nacional. Há muito tempo que se suspeitava que Ohio teria o papel decisivo que a Florida teve em 2000 e durante meses a fio isso reflectiu-se numa intensa batalha política. Um dos trunfos do filme é a escolha em utilizar Ohio como uma amostra do que aconteceu a nível nacional, amplificando quanto renhida e casa a casa foi a luta por votos.
O documentário é bastante convencional, seguindo duas linhas narrativas paralelas: por um lado, entrevistas a estrategas de posições com considerável importância nas duas campanhas, que comentam a campanha com a distância que o tempo permite; por outro lado um grupo de pessoas que está envolvido em acções directas no terreno, que tenta convencer os últimos indecisos. Estas campanhas que decorrem próximas dos eleitores revelam-se atípicas, na forma como muitas vezes decidem-se por visitas porta a porta, com voluntários a percorrer as ruas que lhes são atribuídas. Além dos partidos, há sempre grande interferência de vários grupos ligados a determinadas plataformas e as eleições de 2004 foram especialmente influenciadas pelas
culture wars, em que assuntos fracturantes a nível moral foram utilizados para mobilizar grande parte dos eleitores.
Mas são as imagens do próprio dia da eleição, com as filas intermináveis de pessoas debaixo de chuva à espera da sua vez de votar, e os momentos imediatos ao anúncio dos resultados, que constituem o ponto forte do filme e que permitem observar a comoção que afecta os envolvidos. É notável verificar a convivência paralela entre uma quase ingenuidade e entusiasmo honesto pelo processo democrático, e o papel das
dirty politics, que transpira quer através da supressão de votos, quer através de campanhas negativas e ataques pessoais. É uma dualidade em confronto na parte final do filme, entre o entusiasmo e o pessimismo, entre a perseverança da esperança que uma pessoa pode fazer a diferença e entre a procura duvidosa de brechas na lei para diminuir o número de votos no oponente. Mais que um evento político, as eleições são também um evento cultural e para isso ajuda a cultura do espectáculo, que rodeia e define os momentos capturados no filme. A realidade longínqua, a que as pessoas retratadas no filme assistem na televisão das suas casas, transforma-se em algo palpável, faz parte da sua vida, nem que seja por breves momentos.
2004: G. W. Bush: 50.8% / John Kerry: 48.7%
sondagem Ohio: Obama: 47% / Romney: 46%
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