Game Change (2012), 6/10
mini-ciclo
eleições americanas (i)
Game Change é um filme feito para a televisão, do realizador Jay Roach, responsável pelo elucidador
Recount (2008). Tal como Recount, que era sobre a confusão das recontagens de votos na Florida em 2000, este é um filme que ficciona eventos reais, recriados através de depoimentos das pessoas que viveram as situações descritas, recolhidos no livro homónimo publicado em 2010. Trata da campanha de 2008, mais especificamente da escolha de McCain em apontar Sarah Palin como a sua candidata a vice-presidente. McCain decidiu apostar numa jogada arriscada que alterasse a dinâmica da campanha e reduzisse a vantagem que Obama detinha desde as primárias e do embate com Hillary Clinton. Mas considerando a falta de tempo e a pressão para agitar o cenário político, a escolha de Palin, em grande parte devido à sua imagem de conservadora carismática, não foi suficientemente acautelada. As vantagens iniciais pareciam ofuscar as desvantagens, mas rapidamente a impreparação e incompetência de Palin viriam ao de cima, e a jogada de McCain revelar-se-ia um golpe de marketing falhado, com consequências catastróficas para a sua campanha.
Interessado, acima de tudo, em explorar o fenómeno da celebrização da política, não assistimos, em
Game Change, a grandes manobras de bastidores, debates sobre estratégias ou trocas de ideias de índole política. A grande decisão estratégica estava tomada, restava minimizar o erro, isto é, esconder Palin do escrutínio público. Palin transforma-se instantaneamente numa celebridade, numa estrela de um mau reality show, e à medida que a data das eleições se aproxima, surgem as exibições de egoísmo infantil. A preparação para uma primeira entrevista e para o debate revelam um preocupante autismo por parte de Palin, e sucedem-se os problemas de comunicação dentro da própria campanha republicana. A maior preocupação de
Game Change é mostrar que Palin, antes de ser uma figura política com convicções, é uma actriz, uma figura oca, à qual se aplica uma matriz ideológica e se ministram talking points, sem esta realmente saber o que defende. O importante será apenas a imagem pública, é a única coisa que interessa, pois a aparência e todo o aparato à sua volta escondem alguém profundamente vazio. Não admira que Palin se concentre apenas em manipular a sua imagem e fuja ao diálogo, porque tudo o que não seja baseado num guião previamente definido e preparado está fora do controlo.
Game Change, apesar de uma linguagem televisiva dinâmica, perde-se ao relevar demasiada atenção a uma figura secundária, um fait-divers, no que foi uma eleição histórica.
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