março 24, 2011

Cinematografia


"In the original script there was no such ending. From the very beginning we were thinking of how to end this film, how to find this image that would just close the whole story. It was Roman’s idea, two weeks before we were supposed to shoot that scene. We wanted an evening, magic hour shot, mysterious and dark. And we didn’t want to show, we wanted to suggest that something dramatic may have happened. We took two or three takes and the last take was the best."

–Pawel Edelman, cinematógrafo de "The Ghost Writer"



"John Hillcoat, from the beginning, was very confidant in me. I could work with a lot of freedom. This shot was an improvisation. It wasn’t planned. The movie doesn’t have too many interior scenes and this was something we discovered right there on the set. Most of the movie wasn’t storyboarded and we were really glad that this was a shot that could show like a shadow without a specific shape that is being erased and it reflects the character and what he’s feeling at that moment and accentuates the drama. The water is, in a sense, erasing the past. I think it’s a really powerful moment in the story."

–Javier Aguirresarobe, cinematógrafo de "The Road"



"It’s very informational in a lot of ways.  It’s kind of a symbolic image as well, which I think gives it its strength.  The obvious thing was to show this from above to give this kind of web surrounding him, which I think is metaphorical for his position, but also the moment of ecstasy at the center of this thing, it’s like he’s caught in a spider’s web.  And it’s almost like an impossible place to be, so I think it’s a little bit mystical as an image.  You wouldn’t get yourself in the center of such danger, but that was obviously the character.  He was prepared to do that, which made him different to the other guys, and I think ultimately that’s what the film’s about."

– Barry Ackroyd, cinematógrafo de "The Hurt Locker"



"The first time I spoke to Darren, it was very clear that the inspiration for the visuals of the film was in the work of the Dardenne brothers, who directed “Rosetta” and “L’Enfant.”  That first shot was going to be much more complicated, a low, hand-held tracking shot that was going to move in on Mickey and turn around and start to discover his face.  We tried it and Darren decided it was much too complicated.  We decided to leave the camera in the back of the room with Mickey very small in the frame with his back to us and I think that right away it established the isolation of the character."

– Maryse Alberti, cinematógrafa de "The Wrestler"



"This shot can be seen as a compressed example of how we tried to treat the story throughout the film.  It pretty much followed the ideas Tomas and I had about how to show cruelty, action and supernatural elements and where to put focus.  We wanted to be close on Oscar and the way he experiences the situation, as well as have a platform to tell everything that happens in one shot.  I am not sure if it is the most “pretty” frame of the film, but it was very exciting to try to unravel and solve the puzzle of all present elements in this shot, technically, as well as emotionally.  I am very proud of Tomas and the way he dared to go with a climax that is so violent, but restrained and subtle at the same time."

– Hoyte Van Hoytema, cinematógrafo de "Let the Right One In"

* depoimentos recolhidos por incontention.com

março 10, 2011

O Vazio em Ozu



"O Vazio em Ozu": filme-concerto de kanukanakina (som) & cinemajunkie (imagem)

Sábado 12 de Março, 22h30 em Viana do Castelo, na AISCA - Associação de Intervenção Social, Cultural e Artística. (evento)

É um filme-concerto, uma performance musical de sonoplastia construída sobre uma projecção de imagens editadas a partir de filmes de Yasujiro Ozu (e outros realizadores japoneses). É também uma tentativa de encontrar uma linha narrativa na evolução das imagens do cinema japonês e da própria sociedade japonesa, e o papel de Ozu em revelar tudo isso numa viagem ao Japão através do seu cinema. Ozu é um dos mestres originais do cinema, que conseguiu desenvolver uma linguagem cinemática muito própria que é ao mesmo tempo moderna e primordial, que está presente em qualquer filme saído de Hollywood por estes dias. Foi essa linguagem, essa utilização das imagens para contar uma história que marcou o cinema japonês no período que a sua carreira atravessou, um estilo contemplativo que se extravasou para os seus contemporâneos no Japão: quer sendo apropriado por outros realizadores, quer provocando reacções para procurar uma linguagem alternativa (como Kurosawa ou Suzuki), ninguém era indiferente à importância do trabalho de Ozu.

Mu / 無 é o simbolo japonês que encontra tradução no conceito de vazio, nulo, e que Ozu adoptou como seu - é um conceito que paira sob toda a sua carreira e sob toda esta projecção. Diz-se de Ozu que filmou sempre o mesmo filme, com ligeiras variações e que nessas variações ínfimas podíamos observar a evolução da própria sociedade japonesa, das alterações nos seus costumes. Ozu observava inexoravelmente o núcleo familiar, as relações entre pais e filhos e a dicotomia tradição versus progresso. Os filmes de Ozu tentavam acompanhar as mudanças que marcavam a sociedade japonesa, desde a depressão económica dos anos 30 à recuperação do pós-guerra e consequente estabilidade e prosperidade. Com esta projecção pretendemos oferecer uma oportunidade de descobrir o início do seu trabalho que atravessou três décadas - desde os filmes mudos do início dos anos 30 à introdução das cores no final dos anos 50 -  e a construção de uma linguagem que se tornou um alicerce para o cinema actual.  Este caminho seguido de forma cronológica permite-nos ver não só a evolução do seu trabalho mas também a influência que teve junto de outros realizadores japoneses. Os ritmos de Ozu são repetidos, são sombrios, quase mecânicos - e aqui são investigados, amplificados, na procura do vazio que Ozu carregava consigo, até chegar à imagem final.

http://o-vazio-em-ozu.blogspot.com/
http://www.aisca.pt

março 03, 2011

Óscares no Ípsilon (ii)



the geeks are all right

Foi uma noite entretida na redacção do Público, a noite dos Óscares. Na companhia da equipa do Ipsílon e do outro vencedor do passatempo, João Lameira, o ambiente era descontraído quanto baste, mas havia sempre algo a acontecer (e os white russians ajudaram). Como oportunidade imperdível para assistir ao funcionamento da redacção de um jornal como o Público, era díficil não perder o olhar no trabalho coordenado de uma equipa dedicada a cobrir o evento em tempo real, entre Vasco Câmara como editor, Jorge Mourinha a moderar a discussão online ou os comentários de Luís Miguel Oliveira. O debate que se podia seguir no webchat extravasa muitas vezes para a redacção: Câmara escrevia que Nolan é um Danny Boyle novo-rico, Mourinha soltava uma gargalhada alta, trocavam-se algumas palavras sobre o Slumdog e o Inception, e Oliveira refugiava-se num comentário sobre o Crash ou o Blue Velvet (outros comentários da noite dignos de nota: "Winter's Bone" vem de "Deliverance", Bjork e Celine Dion são equivalentes). As maiores reacções, além das partilhadas e recorrentes admirações para com os comentadores da TVI, ainda foram para a vitória de Christian Bale e especialmente para a vitória de Tom Hooper, ou melhor para a derrota de Fincher. Se havia alguma resignação em relação ao triunfo de King's Speech, também era aceite e esperado o triunfo de Fincher como melhor realizador, opinião que reunia algum consenso na redacção (mesmo chegando-se à conclusão que "The Social Network" era pouco mais que música e argumento). Aliás, havia algum consenso entre os presentes sobre Black Swan ser o filme-candidato mais meritório, e algum menosprezo em relação a "King's Speech" e "The Kids are all right". O melhor comentário foi mesmo para o reservado LMO que face ao prémio de melhor realizador escreveu apenas "Tom Hooper, lol", é claro, sem um esboço de sorriso.

Tudo isto contribuiu para animar uma noite que acabou por ser retrogradamente saudosa, no que foi mesmo uma das cerimonias menos interessantes dos últimos tempos. Os Óscares não são apenas uma feira de vaidades e uma celebração de filmes comerciais, são importantes pela exposição que dão a filmes menos conhecidos que ficariam confinados às margens, e são importantes para medir as tendências de Hollywood (por muito conservadoras que sejam). Muito distante das cerimónias dos últimos anos em que distribuiram prémios e nomeações por vários filmes independentes ("No Country for Old Men", "There Will Be Blood",  "Into the Wild", "Michael Clayton", apenas em 2009; para não falar do ano passado, provavelmente os melhores Óscares dos últimos tempos), este ano o bom caminho que ia sendo seguido foi interrompido. A cerimónia foi quase apática, insípida e não ficará para a história, aliás como a maioria dos filmes nomeados, filmes de que a cerimónia é um reflexo. O conjunto de filmes destacados este ano eram seguros na sua maioria, apolíticos, tal como a cerimónia. O único momento fora da zona de conforto foi mesmo a vitória de Inside Job como melhor documentário e o discurso que se seguiu. Lembrou bem Charles Ferguson: "I must start by pointing out that three years after our horrific financial crisis caused by massive fraud, not a single financial executive has gone to jail, and that's wrong." (mesmo assim esta vitória impediu a celebração do filme de Banksy, cujo triunfo seria mais arriscado). Num ano em que o tema mais fracturante é a "falta de voz" da luta de quem gagueja, que finalmente foi reconhecido, isso mostra o autismo de Hollywood deste ano, que deixa filmes revisionistas da história recente e possivelmente polémicos como "Ghost Writer" ou "Fair Game" esquecidos. Mas como o próprio Spielberg lembrou no fim da cerimónia: "If you are one of the other nine movies that don’t win, you will be in the company of The Grapes of Wrath, Citizen Kane, The Graduate, and Raging Bull”.

videos:
Vasco Câmara comenta o fim da cerimonia - http://videos.publico.pt/Default.aspx?Id=7ca7885d-93d4-4dde-a5f2-b088323ce238
Luis Miguel Oliveira faz balanço provisório - http://videos.publico.pt/Default.aspx?Id=4dae2267-ad66-48a3-bf15-232e94e6f695
Jorge Mourinha faz antevisão - http://videos.publico.pt/Default.aspx?Id=8b9d00a9-11c8-427e-b02d-6c334a701317