Dirty Wars (2013) de Rick Rowley, EUA, 7/10
nomeado para Oscar Melhor Documentário
Dirty Wars é um
filme-diário sobre o jornalista americano Jeremy Scahill e um determinado
momento na sua vida, em que uma investigação revela dados cada vez mais
assustadores e os caminhos percorridos tornam-se cada vez mais perigosos.
Scahill é um investigador freelancer, colaborador da revista The Nation, que
ganhou proeminência com a exposição das operações da Blackwater durante a
guerra do Iraque. No início do filme encontra-se no Afeganistão numa missão de
rotina, mas insatisfeito com as acções de propaganda do exército americano que
é obrigado a seguir, decide sair sozinho da zona permitida aos jornalistas,
para investigar rumores de um ataque a civis. O que descobre numa aldeia acaba
por revelar-se chocante, pela violência envolvida, pelos indícios de interferência
americana no que aconteceu, e pelos esforços destes em eliminar as provas dessa
intervenção.
O filme utiliza uma diversidade de fontes para acompanhar
visualmente o texto da narração de Scahill, escrito pelo próprio. Desde imagens
de arquivo, a imagens de monitores e tablets
à medida que Scahill pesquisa websites
à procura de provas, a imagens de Scahill a olhar preocupado ou a andar pelas
ruas absorto nos seus pensamentos, o filme não é especialmente estimulante ou
inventivo a este nível. O documentário permite conhecermos o dia-a-dia e o
método de trabalho de um jornalista de guerra, e a solidão da profissão. O
trunfo do filme acaba por ser as imagens recolhidas no Afeganistão e Iémen, onde
assistimos a depoimentos dos familiares das vítimas. Dirty Wars coloca-nos assim ao lado de Scahill, para acompanharmos
os desenvolvimentos do caso, e sentir os calafrios com as declarações das
pessoas que Scahill entrevista e os factos que vai descobrindo, ao mesmo tempo
que ele.
Ao longo da investigação do filme, somos apresentados à
unidade ultra-secreta do exército americano JSOC (Joint Special Operations
Command) e ao rasto de sangue que deixa nos países onde actua; à existência de
uma kill list, que passou do baralho
de cartas do Iraque a uma lista com centenas de pessoas que podem ser
assassinadas a qualquer momento; à descoberta de um americano nessa lista, que
terá sido condenado pelo seu país sem direito a julgamento ou defesa; aos
ataques por drone e os seus “danos colaterais”. Mas acima de tudo somos
confrontados, através de Scahill, com a conclusão que se antigamente era
possível um jornalista mudar o mundo com o que denunciava (ex: watergate, pentagon papers), o sentimento é que agora isso é impossível, pois
as denúncias de direitos perdidos acabam engolidas por um mar de propaganda e
indiferença – no fim do filme, os mesmos que Scahill tenta denunciar acabam
celebrados (por altura da morte de Bin Laden), enquanto as vítimas e a justiça
acabam esquecidas.
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