Filmes pre-seleccionados para a lista de Oscar Melhor Filme Estrangeiro (I)
La teta assustada (The Milk of Sorrow) de Claudia Llosa, Peru, 8/10
Sobreviver… sem alma
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Mas acima de tudo, apesar da vontade de viver ela não se atreve: afinal, a sua preocupação é não ser atacada ou violada, e para isso recorre até a outra tradição local que envolve uma batata (tem que ser visto): “Onde moro, anda-se colada à parede, senão as almas podem apanhar-te e podes morrer”. Quando alguém lhe diz que só a morte é obrigatória e o resto somos nós que escolhemos, ela naturalmente responde: “E quando te violam e te matam, isso não é obrigatório”. São estradas solitárias e tortuosas as que ela percorre durante o filme, numa lógica de auto-defesa contra o mundo exterior, por entre personagens que parecem viver uma angústia demorada, insensíveis na sua maior parte à alienação de Fausta.
Da mesma forma que a personagem principal do filme procura manter distâncias em relação a todos os outros, o filme parece procurar uma abordagem distanciada, contemplando os rumos de Fausta de forma quase documental, mas ao mesmo tempo criando uma relação emocional com o seu destino, já que ela está presente em todos os quadros. Acabamos por ver o mundo através dos seus olhos assustados, num vislumbre do seu mapa emocional. De certa forma, tornamo-nos a única testemunha de Fausta, os únicos capazes de a compreender.
O filme tem durante vários momentos como cenário um noivado ou casamento: quer da sua prima que se vai casar, quer dos vários casamentos em que Fausta trabalha, sempre isolada dos retratos de felicidade artificial estrangeira que a rodeiam, sobrevivendo mesmo assim…
Conflitos revisitados
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Não há muito mais que tensas cenas de acção e sequências de perseguição, à medida que o nosso protagonista tenta manobrar entre patrulhas alemãs e escapar à supervisão parental – há uma paranóia constante em relação aos nazis e desconfiança em relação a todos que isolam o jovem na sua missão; e confrontos geracionais, que levam o rapaz a questionar o papel do pai como colaborador que tenta à sua maneira apaziguar a opressão nazi sobre os locais e uma relação com um tio ligado à resistência, que levanta algum debate sobre as escolhas em tempos extremados: se sacrificar o orgulho e não levantar problemas, ou participar em perigosas acções de resistencia activa.
O modo como a história é filmada alterna entre momentos pessoais à procura de subtilezas nas sombras e entre momentos com resquícios de westerns e evocações de Sergio Leone, com grandes planos demorados nas faces dos actores ou slow-motions extendidos, ajudados por música orquestral que tenta atribuir grande importância dramática e construir tensão nas cenas fulcrais, na única escolha estilística de direcção, efeitos que podem parecer desajustados a tempos e que não se adequam exactamente ao tom sentimentalista da história, mas que pelo menos demostram alguma ambição cénica, que mesmo assim nunca consegue escapar das personagens unidimensionais pouco desenvolvidas e da falta de imaginação narrativa.
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